quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ANÁLISE DA SEMANA

"Os criadores e os "imitadores"

No futebol, como na vida, é mais interessante ser um criador do que um imitador. A mecanização, por si própria, tende quase eliminar responsabilidades. No limite, o jogador robotiza-se para fazer o programado. Perde aquilo que, dentro dos princípios de jogo regentes da dinâmica da equipa, é a margem de liberdade para a execução dos mesmos. Isto é, esses princípios (movimentação de referência que o jogador leva para o campo) nunca podem matar a versão criativa de qualquer jogador.
As nossas equipas (grandes ou pequenas) estão cheias de imitadores. Alguns, diga-se, são bons imitadores. Os criadores, esses, são mais raros. E podem vir dos locais mais estranhos. Ou, vendo bem, talvez não, porque esses chamados graus de liberdade são conquistados pelos jogadores que, quando são criativos por definição, vivem essa vocação dentro de uma lógica comum."

(...) Jogador de muitas ideias, Coentrão tem conseguido, no entanto, ser o melhor extremo…do Benfica mesmo sem sair da posição de lateral. Para isso, utiliza os tais graus de liberdade que os princípios de jogo lhe dão. Defende e ataca. Em nenhuma posição (dinâmica) é um imitador.

No Sporting, João Pereira subiu mesmo posicionalmente nos últimos jogos de lateral para extremo (ou ala do 4x4x2). O seu caso, porém, no colectivo da equipa, é diferente do de Coentrão. Porque atrás dele, continua a existir um lateral, Abel, com o mesmo tipo de linguagem de movimentação, muito ofensivo. Mas João Pereira não joga com o tal grau de liberdade que a boa execução dos princípios lhe pode dar. Ele próprio tem, neste momento, diferentes princípios para executar no jogo. A equipa necessitava, de facto, das suas características naquela posição. Assume, assim, um papel de (bom) imitador. A lógica comum de construção fica, mais uma vez, confundida.


O melhor futebol é o que merece mais liberdade. O fundamental é o compromisso entre sectores. Em todas as equipas há jogadores mais importantes do que outros, mas o que o treinador tem de evitar, é que eles se tornem imprescindíveis. Como criadores ou como imitadores."

Retirado de crónica de Luís Freitas Lobo publicada, em 30/10/2010, no sítio PlanetadoFutebol.

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